A mímica é considerada um dos meios mais primitivos de auto-expressão. Tendo sido para comunicação, para entretenimento ou ainda para fins educativos, a mímica é uma forma de representação básica no homem: a mímica teria sido uma das primeiras manifestações do homem (afinal, os reflexos faciais constituem-se na linguagem mímica, universal e inata) que, posteriormente, na medida em que se afastava da origem rude e procurava reverter a ordem de dominação da natureza, começou a passar para a linguagem oral. Da linguagem mímica e oral, foi-se dilatando o processo, com variações da linguagem mímica (a dança e outras formas de manifestação corporal) e da linguagem oral (música). À medida em que se intensificava o poder de abstração, o corpo foi sendo relegado a um segundo plano, intensificando-se a oralidade e a busca de uma linguagem coletiva, de modo a falar não mais das subjetividades, mas da comunidade.
A origem dramática da mímica reporta-se ao teatro grego. Segundo alguns, estaria ela atrelada a uma das Musas – Polímnia – que, juntamente com Terpsícore (dança) e Calíope (poesia) teria sido responsável pela educação de Apolo, antes de sua ascensão ao monte Parnaso. Entenda-se, portanto, que essas três manifestações estão intimamente associadas.
Aparentemente a mímica teria sido bastante empregada no Teatro de Dioniso, em Atenas, onde atores à luz do dia, portando máscaras, encenariam para cerca de 10.000 pessoas (ou até mais, nos Festivais a Dioniso). Nessa época, a forma mais elaborada de mímica, a "hypothesis", era representada por atores que se concentravam mais na construção e desenvolvimento de suas personagens propriamente ditas. Com freqüência, um único ator representava várias personagens. O teatro grego floresceu entre os séculos V e IV aC, com a tragédia e a comédia. Posteriormente, com as conquistas, os romanos levaram a mímica para a Itália, adequada que era ao gosto do espetáculo entre os romanos. Com o tempo, eles desenvolveram sua própria técnica, incluindo a pantomima. Mas a mímica dependia muito do humor do Imperador: Augusto adorava a representação dos escravos; Tibério os matava.
Com a queda do Império Romano, a Igreja Católica proibiu a mímica, fechou teatros. Mesmo assim a forma de arte sobreviveu.
Já na Idade Média, devido à enorme fragmentação e à quantidade de dialetos existentes na Itália do século XVI, os atores da chamada "commedia dell'arte" precisavam ter uma "concepção plástica de teatro". Nessa hora a mímica voltou à cena, sendo representada basicamente nas praças e mercados, e tornou-se um dos fatores mais importantes de atuação do espetáculo teatral e circense, tanto mais intensificada pela presença das máscaras (lembremo-nos de Veneza), que determinavam papéis mais ou menos estereotipados para os atores.
O ator na "commedia dell'arte" precisava efetivamente ter "uma concepção plástica do teatro", exigida em todas as formas de representação, com a criação de pensamentos e de sentimentos através do gesto mímico, da dança, da acrobacia, consoante as necessidades; do mesmo modo era necessário o conhecimento de uma verdadeira gramática plástica, além desses dotes do espírito que facilitam qualquer improvisação falada em um espetáculo.
A performance exageradamente cômica atraía a atenção para as performances acrobáticas, vindo a consolidar o gênero. Afetuosamente eles eram chamados de "Zanni", dando origem a personagens como o Arlequim (representante da classe mais servil). As trupes eram acessíveis a todas as classes sociais e a temática era sempre contemporânea, mantendo um caráter crítico forte, dado pela proteção trazida pelas máscaras.
Como a mímica não apresentava problemas de comunicação com a platéia, não tardou para que os "Zanni" viajassem e, pelo ano de 1576, uma das companhias italianas foi à França, onde a arte da mímica tornou-se imensamente popular. Muito dos gestos tradicionais e da constituição visual do Arlequim vieram desse momento.
Já, em 1881, uma família de acrobatas da Boêmia viajou a Paris e um dos filhos, Jean Gaspard Batiste Deburau, engajou-se na representação mímica junto aos "Funâmbulos do Boulevard do Templo".
Permaneceu com esta Companhia até a sua morte, mas todo o tempo em que lá esteve a serviço dessa manifestação artística serviu para que ele começasse a dar o perfil que a mímica tem hoje. Foi ele o responsável pela criação da figura do Pierrô.
A mímica viveu outro sucesso durante a Primeira Guerra Mundial, através da figura do grande Jacques Copeau, que foi professor, por seu turno, de Charles Dullin e Etienne Decroux, na Escola Vieux-Columbier. Este último, juntamente com outro aluno da mesma escola, Jean-Louis Barrault, desenvolveu a mímica moderna e levou-a para o cinema, no filme "Lês enfants du paradis" (1945). O filme, rodado sob o olhar censor da Gestapo, falava da biografia ficcional de Deburau, junto aos "Funâmbulos".
Após a Segunda Guerra Mundial, surgiu Marcel Marceau, que foi discípulo de Decroux e é considerado o maior ator de mímica de todos os tempos; criou a sua própria personagem "Bip", uma adaptação do Pierrô.
Sem dúvida a mímica influenciou o cinema mudo e atores como Chaplin, Keaton e o próprio Marceau foram arquitetos de um novo estilo, considerados como criadores da mímica atual.
Basicamente, existem dois grandes tipos de mímica: a literal e a abstrata, ou a combinação das duas. A mímica literal é mais usada na comédia e fala da história de um conflito, através do uso de uma personagem central. As ações e a aparência visual delineiam claramente a história para os espectadores. Já a mímica abstrata é usada geralmente para os sentimentos, pensamentos e imagens sérias, de um tema ou assunto. Normalmente não tem trama, nem personagem central, e é considerada uma experiência mais intuitiva.
0 comentários:
Postar um comentário